Data aproximada em que foi escrita: Junho / 2012
Música para ouvir enquanto lê: Rage Against The Machine - Calm Like A Bomb
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Isso
aconteceu. Quer dizer, isso REALMENTE aconteceu. Ou poderia acontecer, de repente,
sei lá.
Era um homem do Oriente Médio, daqueles
barbudos poderosíssimos, os chamados Sheiks. Rico, dono de uma refinaria de
petróleo, era um dos cinco maiores empresários do ouro preto no mundo inteiro,
e sua fortuna era estimada em zilhões de dólares.
Tinha ao
total trinta esposas dos mais variados tipos. Tinha morena com pinta no rosto,
morena sem pinta no rosto, morena com nariz pequeno, morena com orelha grande...
E todas com o bendito véu cobrindo o rosto, é claro. E o curioso era que ele
dormia com uma em cada dia do mês.
As
esposas no geral se davam bem, o problema era quando fevereiro chegava... Pela
tradição, duas (ou uma, se for bissexto) sempre ficavam sem sexo, aí era uma
briga danada.
Sorte
mesmo era quando chegavam os meses com
trinta e um dias... Aí a briga era pra ver quem fazia duas vezes.
E
filhos? Meu Deus, eram tantos filhos! O pobre Sheik não conseguia se quer
lembrar do nome deles. Sabia que tinha um Mohamed ou um Al Mualim, mas, por
Alá, quais dos quarenta e cinco seriam eles?
Mas ele
adorava a vida que levava. Como era bilionário, conseguia sustentar a enorme
família muito bem.
Sabe
aquele delicioso churrasco familiar, que acontece uma vez por ano (e olhe lá)
que vão todos os tios, primas, sobrinhos, sogros, pais, filhos... Enfim, a
parentada toda? Pois então, aquilo era uma rotina para o pobre homem. Os
almoços mais pareciam finais de campeonato brasileiro no estádio. Mas apesar de toda a muvuca, ele se divertia
muito com a grande família. Ah, aquilo sim era uma grande família de verdade.
Neneu, Agostinho e companhia não chegam nem perto daquilo.
E ele ia
vivendo. Cuidava dos negócios de manhã, e tinha parte da tarde e a noite
inteira livre para a família, quando ele se divertia com os trocentos zilhões
de filhos,levando-os para brincar no parquinho particular, ou na piscina, ou
até mesmo no campo de futebol que o pai havia construído em uma de suas imensas
propriedades.
Até que
um dia, algo inusitado aconteceu.
Um
forasteiro boa-pinta, com um terrível sotaque americano, começou a lhe contar
sobre a história de um tal de Jeová.
- Jeová
é Deus?- Perguntou ele -Só Alá é Deus.
- Não, o
verdadeiro Deus é o Deus dos judeus, o Deus Eu Sou, o Jeová, o Criador.
Após uma
longa e irritante conversa, em que o missionário tentava converter o
todo-poderoso Sheik, o ricaço se encheu do papo daquele americano que se achava
o dono da verdade, e se virou para ir embora.
Então,
quando ele foi atravessar a rua para entrar em sua limusine, um carro esportivo
veio em alta velocidade para cima dele. Ele sentia que a morte estava chegando
mais e mais perto (E de Viper ainda, parece que nos Emirados Árabes todo mundo
é rico mesmo, até a Dona Morte) E o cristão, por reflexo, se jogou em cima do
Sheik, e os dois voaram seguros, até a calçada.
- Por Alá! Você salvou minha vida! Como posso te retribuir?
Dinheiro, jóias? O que você quer?
- Eu não quero nada, Sheik. Não fui eu quem salvou sua vida.
- Não? Então quem foi?
- Jeová
- O Deus dos judeus?
- Exatamente.
-Eu quero o recompensá-lo. Ele gosta mais de ouro ou de
diamantes?
- Nenhum nem outro, meu caro Sheik. A melhor coisa que você
pode fazer por ele é entregar a sua vida a ele, e mudar seus costumes.
-E como eu faço isso?
- Bom, repita essas palavras comigo.
O Sheik
havia então se convertido ao cristianismo, e depois de algumas semanas em que o
missionário havia lhe ensinado mais sobre o Deus dos judeus, e ia conhecendo
mais sobre seu ‘paciente’, inclusive sobre suas trinta esposas, chegou a uma
conclusão:
-Você não pode ter trinta esposas. Poligamia é pecado. Não é
certo, Deus reprova.
-Então, o que eu devo fazer?
-Livre-se de vinte e nove,e escolha uma para viver pro resto
da vida.
Livrar-se
de vinte e nove esposas. Aquela com certeza não seria uma tarefa fácil.
Quer
dizer, ele realmente gostava daquilo. Não sabia ao certo se gostava das esposas
ou de TER tantas esposas. E nem se gostava de todas, se gostava de uma, duas,
ou até mesmo de nenhuma.
Simplesmente
não sabia o que fazer. Escolher uma, à dedo? E se livrar das outras? Como fazer
aquilo? Todas eram formosas, e tinham boas qualidades como donas de casa.
Então,
ao chegar em casa teve uma brilhante ideia:
-Gostaria de chamar todas as minhas esposas, para um
comunicado urgente. Preciso escolher
uma, e somente UMA de vocês para continuar a ser minha esposa. Ter tantas
esposas não agrada a Javé.
- E como você vai escolher? - Uma delas perguntou.
- É uma boa pergunta, querida nº 23. Vamos promover um grande jogo de Roleta Russa.
Então um
dos servos trouxe uma pistola com nove barris, e uma bala dentro. Ele mostrou a
arma, e começou a explicar as regras do divertido game.
- Serão eliminatórias mata-mata, uma contra uma, como a tal
da copa do mundo que teremos em 2022. Serão feitos sorteios para cada uma ter
sua primeira adversária, quem sobreviver passa para a próxima fase, e pegará
uma nova oponente, até restar apenas uma.
E o
sangrento jogo começou. Miolos estourando para todo lado, poças e mais poças de
sangue, cérebros escorrendo pelo nariz, rostos totalmente desfigurados. Um belo
show, parecia clipe do ‘Slipknot’
Depois
de quatro horas de mortes semi-suicidas, finalmente havia chegado a hora da
grande decisão.
De um
lado, uma bela e quente morena, com um véu cobrindo a cara.
Do
outro, uma bela e quente morena com um véu cobrindo a cara.
Foi uma
grande final, inclusive foi a disputa mais demorada. Era como aquelas finais de
libertadores que vão para os pênaltis,
E então,
a bela morena com véu cobrindo o rosto venceu a morena com véu no rosto.
Feliz da
vida, ela correu para os braços do só-seu marido, e este a parabenizou muito
pela sorte e coragem.
- Parabéns, Jade!
- Meu nome é Mia. Jade morreu na segunda rodada.
Então o
missionário entra em cena.
Ele
simplesmente não acredita no que vê. Ficou abismado, não tinha caído na
realidade. Então o Sheik correu e o abraçou.
-Meu amigo, fiz o que Jeová queria! Livrei-me das vinte e
nove esposas, e escolhi uma! Agora eu posso me batizar no nosso Senhor Jesus
Cristo!
“Não... era... exatamente isso que eu quis dizer.”
Então o
missionário sentou, e por longas horas, chorou amargamente, sentindo plena
culpa das vinte e nove mulheres mortas, e, segundo sua crença, jogadas
diretamente no lago de fogo por suicídio.
Mais
tarde, o noticiário Árabe informava:
- Atentado terrorista cristão tem vinte e nove mortos na
mansão do Sheik Allahur
Irônico,
não?
Vitor Henrique, Café C/ Fezes
Vitor Henrique, Café C/ Fezes